Rafael Du Valle tem 28 anos e está lutando como soldado na Ucrânia. Em entrevista ele fala sobre seus desafios e sonhos na linha de frente de uma guerra que parece não ter fim
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Foram pelas ruas do bairro Planalto, em Muriaé, onde passou a maior parte da sua vida, Rafael Du Valle, de 28 anos, jamais imaginava que o destino o levaria tão longe – literalmente e emocionalmente. Hoje, ele veste farda em outro continente, com o coração dividido entre o amor pela terra natal e a missão de defender civis inocentes em plena zona de guerra. Rafael Du Valle é soldado do GUR, Grupo de Operações Especiais da Ucrânia, e atua na linha de frente contra as tropas russas.
Ex-militar da Legião Estrangeira Francesa, Rafael retornou ao Brasil na esperança de recomeçar. Casou-se, voltou a morar em Muriaé, mas se deparou com um cenário difícil: “Infelizmente, a cidade é grande, mas carece de oportunidades. Amo Muriaé, mas precisei buscar algo que me desse propósito novamente. Hoje estou na Ucrânia por falta de chance aí”, desabafa.
A guerra não é apenas uma batalha de nações, mas uma luta interna diária. “Tenho saudade de casa todos os dias. Minha esposa ainda está aí. Mas ela me apoia, sabe que essa busca é por conhecimento e, quem sabe, um dia, para voltar e contribuir com a nossa cidade”, diz o soldado.
Integrante do grupo de elite Blackout – nome que simboliza o “apagão” causado pela presença dos soldados –, Rafael vive em Kiev e participa de missões secretas em regiões onde os russos avançam. “É uma rotina pesada. Uma semana de treinamento, outra na linha de frente. Trabalhamos com defesa, reconhecimento e eliminação de ameaças. Cada missão é como ter a morte ao lado. Só Deus para nos proteger dos vermes russos”, afirma, com um misto de coragem e indignação.
A realidade da guerra é dura, mas Rafael encontra forças no apoio dos ucranianos. “As pessoas aqui são muito gratas. Nos agradecem nas ruas, nos mercados, nos tratam com respeito. Já se acostumaram com a guerra, mas ainda vivem perdas diariamente. Crianças morrem todos os dias.”
Mesmo em meio ao caos, ele conta que a adaptação ao país foi surpreendentemente tranquila. “O povo é educado, gentil. A única dificuldade foi o frio: cheguei com menos 9 graus. Mas a alimentação é boa, a estrutura é feita para mantermos o mínimo de conforto e conseguirmos lutar bem”.
Com dois meses de atuação em solo ucraniano, Rafael enxerga o futuro com propósito. “Quero continuar por aqui um tempo. Depois, voltar para Muriaé e montar uma escola de cursos de sobrevivência, tiro, táticas militares… algo que possa preparar jovens, militares da ativa e até civis. Quero devolver para minha cidade o que aprendi por aqui.”
Neste domingo, a Rússia disparou dois mísseis contra a cidade ucraniana de Sumy e deixou pelo menos, 34 mortos e 84 feridos. Segundo autoridades ucranianas, o ataque atingiu o coração da cidade por volta das 10h15 do horário local – 4h15 do horário de Brasília. Vídeos divulgados em canais oficiais mostram corpos no chão, em meio a destroços e fumaça, no centro de Sumy. Nas redes sociais, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falou sobre os trabalhos de resgate em andamento, se referiu à Rússia como “escória imunda” e também pediu uma resposta global ao ataque.