De acordo com o delegado Carlos Augusto Guimarães, em depoimento o jovem disse que "matar os pais seria uma questão de tempo"
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A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro apresentou, durante uma coletiva de imprensa, o desfecho da investigação sobre o triplo homicídio ocorrido no distrito de Comendador Venâncio, em Itaperuna, e que teve como autores um adolescente de 14 anos e sua namorada, de 15, apreendida no estado do Mato Grosso. O caso chocou o país pela brutalidade e pela frieza envolvidas no planejamento e execução dos crimes, que vitimaram o pai, a mãe e o irmão caçula do garoto.
Conforme detalhado pelo delegado responsável, Dr. Carlos Augusto Guimarães, a investigação foi concluída com êxito em menos de uma semana, com robusta comprovação da materialidade e da autoria dos crimes. “Não estamos aqui para expor identidades, mas para prestar contas à sociedade e emitir um alerta aos pais e responsáveis sobre os perigos que envolvem o acesso descontrolado de crianças e adolescentes a conteúdos violentos e armas de fogo”, afirmou.
A adolescente, que mantinha relacionamento virtual com o autor dos disparos há cerca de seis anos, teve participação ativa nos crimes. Ela o incentivou a executar os assassinatos para que pudessem se encontrar pessoalmente. De acordo com os investigadores, a jovem usava um perfil com o nome de “John Wick”, personagem de filmes violentos, para se comunicar com o namorado. As conversas entre os dois revelaram premeditação, atos preparatórios e sugestões sobre como sumir com os corpos, inclusive com cogitação de métodos como queima e até canibalismo, apesar de não haver indícios de concretização dessa última possibilidade.
Os crimes foram cometidos com a arma de fogo do pai do adolescente, a qual ele havia escondido sob o travesseiro. Após os disparos, os corpos foram jogados em uma cisterna na própria residência. Os jovens ainda discutiram formas de apagar rastros, como destruir celulares e transferir valores das contas bancárias dos pais.
Durante a coletiva, a delegada Dra. Natália Patrão fez um forte apelo às famílias sobre a necessidade de vigilância e diálogo com filhos adolescentes. “O ambiente virtual favorece a violência, normaliza o absurdo e distancia pais e filhos. Muitos adolescentes estão sendo cooptados por comunidades online extremistas, e os sinais de alerta não podem ser ignorados”, destacou. Ela ainda citou casos recentes de conteúdos violentos acessados por jovens nas redes sociais, como transmissões de crimes ao vivo, desafios perigosos e incentivo a distúrbios alimentares.
A Polícia Civil do Mato Grosso teve papel fundamental na identificação e colaboração na apreensão da adolescente, que inicialmente negou envolvimento, mas foi desmentida pelo conteúdo das mensagens. Segundo o delegado Carlos Augusto Guimarães, a adolescente foi localizada e apreendida após o cumprimento de um mandado judicial. Durante o depoimento, ela teria admitido que trocava mensagens com o adolescente enquanto os assassinatos ocorriam.
A Polícia trabalha com duas linhas principais de investigação. A primeira é a de que o adolescente teria cometido os crimes em represália aos pais, que o haviam proibido de manter o relacionamento online. A segunda hipótese envolve uma possível motivação financeira: o interesse no saque do FGTS do pai, estimado em cerca de R$ 33 mil.
Ambos os adolescentes estão apreendidos de forma provisória, com prazo legal de até 15 dias, até decisão judicial. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o tempo máximo de internação é de três anos, mesmo para crimes hediondos. Dr. Carlos defendeu mudanças legislativas que ampliem esse prazo em casos de alta gravidade, argumentando que “a maioridade penal é cláusula pétrea, mas o tempo de internação pode e deve ser revisto”.
Ao final, os delegados reafirmaram que, apesar do impacto emocional do caso, a equipe policial agiu com técnica e rapidez. “Em menos de uma semana, conseguimos elucidar completamente um dos crimes mais cruéis e perturbadores que já vimos. E evitamos, com isso, que a adolescente também executasse um plano contra a própria mãe”, concluiu Dr. Carlos.